Anos depois, hoje eu retorno a este espaço para falar de um assunto que tomou as redes sociais. O dia internacional da mulher.
Lendo algumas postagens sobre esse assunto, comecei a refletir sobre toda a questão feminista, da luta contra os costumes machistas, tão enraizados na nossa cultura e em que lugar muitas vezes nós mulheres nos colocamos para debater tudo isso.
Está muito claro para o mundo esse incômodo com a maneira em que somos tratadas, olhadas, criticadas, padronizadas, perseguidas, etc. Não passa sequer um dia sem que, pelo menos eu leia um post, reportagem, legenda ou ouça sobre. Também é notória a dificuldade da maioria em se reeducar para desconstruir todo esse pensamento antigo que produzem frases como "lugar de mulher é na cozinha", "mulher não pode fazer isso", "mulher tem que fazer isso", etc.
O que me incomoda no meio de toda essa discussão é a maneira como algumas pessoas, na maior parte mulheres, querem enfiar seus ideais feministas e sua indignação na cabeça dos outros. PÁRA e PENSA. Só um pouco. Tudo o que vivemos em relação a desigualdade de gênero hoje só existe por um longo processo histórico e cultural, certo? Está enraizado na vida, na cabeça, nas atitudes, nas falas, no cheiro, na cor, em quase tudo ao nosso redor e por isso fica extremamente difícil para alguém conseguir enxergar o outro lado se o mesmo alguém está preso nessa bolha.
É muito fácil de entender, se eu fui criada em um lugar que todos me dizem e me ensinam que azul, na verdade é amarelo, por mais que eu me mude de cidade, conviva com outras pessoas e elas me digam o contrário, vai ser difícil ver de outra forma. Esse exemplo é minúsculo diante da proporção do machismo, por exemplo, é lógico. Então aumenta isso, multiplica e tenta perceber que não é fácil, de uma hora pra outra, olhar e ver por uma outra ótica. Isso leva tempo, é um processo, é lutando dia após dia, e transmitindo a mensagem e falando sobre.
Agora me diga, será que é com grito, postagem ácida, protesto agressivo que você conseguirá ser ouvida? Será que combater agressividade com agressividade vai realmente funcionar? E mais, tem funcionado? O máximo que isso faz é barulho, alvoroço, reforça e te dão aplausos de pessoas que já pensam como você; e comentários desnecessários ou simplesmente indiferença daqueles que pensam o contrário. Não é dessa forma que eu acredito que as coisas devem funcionar.
O que eu vou falar agora, provavelmente vai fazer muitas pessoas revirarem os olhos e quererem me bater, mas... É a minha opinião: Muitos homens e mulheres hoje são produtos, resultados, vítimas dessa sociedade, que como eu já disse antes, pensa e age dessa forma há muito tempo. Você mesma, provavelmente já se pegou falando algo ou agindo de uma maneira que você não acredita que seja a correta. Então, vamos lá mulheres! Vamos conversar, debater, mostrar fatos, argumentos, apresentar como nos sentimos quando somos olhadas simplesmente como objeto, denunciar quando sofremos qualquer tipo de abuso, educar nossos filhos, sobrinhos, netos, falar para os alunos, fazer campanhas de conscientização e movimentos (como muitos já fazem). E sim, eu realmente acredito na educação. Educação essa que ultrapassa a sala de aula. Que funciona no boca a boca, no dia-a-dia. Espalhe o que você pensa de maneira minimamente educada e sensata.
Transmita sua insatisfação SIM, demonstre a sua raiva SIM, a sua dor SIM. Mas faça tudo isso da mesma maneira como você deseja ser tratada. Sem agressividade, sem grito, sem apelação, sem apontar o dedo na cara. Se você quer ser respeitada, transborde respeito, porque assim como você, o outro, por mais mal educado e machista que seja, também precisa ser respeitado. E isso não é submissão, isso não é se calar, isso é ser humano, ser empático. Não é isso que você quer? Igualdade? Porque você pode defender sua opinião, suas ideias, mas numa mesa redonda não suporta ouvir qualquer coisa que não seja do seu agrado?
Quero deixar aqui extremamente claro que:
1. Eu não me estou pedindo pra você mulher se submeter a absolutamente nada;
2. Eu não estou passando a mão na cabeça de ninguém;
3. Eu não estou aqui pra defender machismo, nem feminismo, muito menos femismo. Estou aqui para provocar reflexão.
Que nós TODOS possamos tentar cada dia mais enxergar o outro como semelhante, mesmo que ele não te veja assim, mesmo que ele não te entenda, não queira te escutar. Eu tenho certeza que suas atitudes falarão muito mais alto do que seus gritos. É aquela regra básica da convivência sadia: se eu não quero que ninguém grite comigo e não admito, eu também não vou gritar com ninguém. Isso é coerência. O que tem faltado bastante na minha timeline e na vida.